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Sobre a realidade.

A paranóia recorrente difunde qualquer registo que possa ser considerado real ou próximo disso. Entre reconhecer a realidade e conseguir viver nela vai uma grande distância. Os pensamentos são complicados A realidade é um extracto de sódio Se fosse um frasco de potássio, bebia-a. Há uma vasta diferença Entre compreender a realidade E distingui-la da criação Vozes chamam-me E distorcem o caminho Ainda que as vozes sejam fáceis De reconhecer É difícil afastá-las Ou ignorá-las Elas chamam-nos de novo Os pensamentos sobrepostos Os pensamentos multiplicados Com vozes que falam todas ao mesmo tempo A realidade é um pedaço quebrado E que a pense quem pode A viva quem consegue. Há determinadas coisas que só conseguimos Compreender, se as vivermos Há muitas coisas que nos parecem distantes Do palpável porque nunca as vivemos Nalgumas cabeças Poderíamos distinguir Realidade de Paranóia As vozes parecem chamamentos As vozes. As vozes não são a realidade perc

Rotina

A criação é hiperbolicamente uma doença que os meus olhos transportam. Escrever sobre o amor é uma doença congénita, escrever sobre qualquer coisa é uma tortura, uma agradável dor. As horas passam, o relógio está do avesso, o dia anda ao contrário, a rotina desrespeita a rotina, a hora de dormir é a hora que, outrora, seria a de acordar, a hora de acordar é a hora que supostamente deveria ser a d e lanchar. O relógio está do avesso, os ponteiros não andam ao contrário, simplesmente não respeitam o normal andamento das coisas. Poderia assumir, de forma incontrolada, que esta é também uma rotina e que dizer que quem o faz não segue uma rotina, é um atentado à palavra rotina, uma vez que, a pessoa apenas está a seguir uma rotina diferente e a desrespeitar a rotina comum. A normalidade das coisas é um atentado à própria palavra. Creio não haver palavra mais ambígua que normalidade. A normalidade pode ser fazer as coisas bem feitas estando fora da regra, o que a psicologia

Tempo

As margens foram passadas por todos os transeuntes, as fadas voaram tão longe como o solilóquio. As passagens intempestivas são tempestades de quem passa fome, de quem sabe que as palavras estão esfomeadas. Voam bem longe os loucos, voam bem alto os desertos que se descobrem em palavras vãs. De quem vai sugando os antecessores para alcançar a balança mesmo antes de chegar a pisar o primeiro degrau. De quem sabe bem que vai pisar o primeiro degrau. Voam bem longe os loucos, beijam bem perto os desertos. Nos lábios carnudos, nos lábios cinzentos de quem dizes que o tempo é um pretexto. O tempo sou eu e és tu.

Eu

Não é preciso ser muito inteligente para se dizer o que quer que seja. É simplesmente útil ser-se ignorante. Porque para quem sabe e sofre, nada precisará de saber, haverá somente de se continuar a sentir inútil e sozinho porque sabe, sabe que nada sabe. Nem sempre quem diz alguma coisa, atrai multidões pela sua capacidade de persuasão, sabe efetivamente alguma coisa. Admiro solenemente quem sabe alguma coisa, pois eu ainda estou à procura das que sei. Não tenho completa nem incompleta certeza nenhuma, reservo-me somente todas as incertezas do mundo. Se tiver que ser ignorante, que o seja, pois não vou querer saber nada. Posso até cair no ridículo de mim mesmo, de escrever de forma rude e calão, de parecer abraçar movimentos vanguardistas mas eu serei sempre uma indefinição que parece, por vezes, fácil de definir. Gosto de ouvir os outros a falar, porque os construo e construí-los é escutá-los. Posso ouvi-los, senti-los, tocá-los, virar o odor de todos eles como páginas gastas da

Oração do Poeta

Gato morre cão Pássaro morre sapo Homem morre não Humano vive não Poema sabe sim Poema soube não A luz da minha aldeia Sabe a dores de garganta Os olhos fecham abertos As aldeias morrem naturais Os poemas são surreais Que vivam os Pais Os pássaros estão loucos Cantam às quatro da manhã Ainda não é manhã Estou louco, bêbedo E ainda não álcool Estou embebido pelos meus olhos Que de lágrimas se cuidam Em poemas descuidados De verdades doentes Este é o poema Este é o poema Que se levante o Aleixo E não parta o queixo Com as coisas que vos deixo Passe a Pessoa E vos deixe à toa Como o rebanho do Caeiro Que queria cagar E não tinha como limpar o cagueiro O Bocage é o Rei Pena não ser Gay O A-berto ia gostar O Sá-Carneiro a cagar Com um cu por limpar Deve ao Fernando A poesia de quem vai andando Não escrevo mais nenhum poema Porque sou uma fonte de inspiração E para isso liguem a televisão Já pensei em escrever sobre o leitor ignorante Mas esse já não iria avante Porque uns escrevem Rap Outr

Está tudo bem

Está tudo bem O pior já passou A memória é traiçoeira As pessoas invejam a tua beleza Invejam o teu sucesso Está tudo bem, estou aqui Vou estar aqui, está tudo bem Vem, vem, vem É difícil perceberes quem te quer bem, Estou aqui! A novidade é interessante Tens vinte números novos no telemóvel, Não sabes de quem são Agarraste duzentas pessoas, Não as conheces Eu posso fazer melhor, Estou aqui Está tudo bem Podes ouvir Não há nada Eu levo-te à saída Estou aqui Está tudo bem Estou aqui Fecha os olhos Está tudo bem O resto não passou de um sonho mau Estou aqui

Paz.

As pessoas estão na rua As pessoas estão aos saltos A noite entra pela janela Do meu quarto, As memórias do passado começam a surgir Intempestivamente; Cores, muitas cores Pessoas, muitas pessoas Muitas pessoas Muitas pessoas A noite corre demasiado depressa A única lembrança é a do acordar Está bom tempo É madrugada Os pássaros às cinco da manhã começam a encantar Restam as memórias Os momentos para contar histórias As pessoas são bonitas Apetece-me abraçar toda a gente

Solidão.

As pessoas passam despercebidas Na rua ninguém sabe quem são As pessoas estão carentes As pessoas eram contentes Sozinhas, livres, leves, vazias, Sozinhas.

Abismo

Ao longe uma parede, um tiro certeiro que vai em direcção ao escuro, o vago é agora a certeza absoluta de um espaço melhor para se viver. Uma bailarina caminha em direcção a um espelho. O espelho é banhado a ouro, um espelho é diferente dos outros espelhos. O espelho está a cerca de trinta centímetros. A bailarina desmaia. Fica a sensação de que o espelho não sabe o que fazer. Sobressaltado, decide atirar-se para cima da bailarina e desmaiar também. Descrição holística   A bailarina tinha dezassete anos de idade, duas irmãs, vivia nos arredores de Veneza, trabalhava durante o dia numa Academia, era boa aluna, os Pais haviam falecido num acidente de carro, morava com os tios, gostava de flores, dançava para se esquecer do desgosto de ter perdido dos pais. A mãe tinha sido bailarina profissional. Para ter a mãe presente na vida dela, usava um colar de pérolas que a bisavó ofereceu à mãe antes de morrer. A mãe gostava de cavalos, de música clássica e de balé, nos tempos livres pin

Dispersão

Estou doente de amores Estou louco e ciente Estou consciente Estou cheio de lamurias e louvores A espada penetra-me a face esquerda do coração O tempo é linear O espaço é ar Fecho um poema ao pensar Estou louco e doente de amores Pela consciência de mim mesmo Que tenho ao saber quem sou Estou eu, estou tu, estou nada Estou tudo, tudo e no fim não sou nada Estou eu, estás tu, nós e nunca foi mais nada.

Uma questão de estilo

Estilo do vira Estilo do pinote Estilo do pequenote Estilo do chicote Estilo da lata Esquilo das latas Esquilo sem patas Poemas sem facas Poemas sem poesia Melancolia Devaneio Chovem estrelas Palavras Poemas Palavras Poemas Palavras Emoção Sensação Emoção Emoção Emoção Emoção João Poema Meu Irmão Teu DELES nosso DOS OUTROS DOS MEUS DOS TEUS DOS QUE SÃO NOSSOS POEMAS TEUS MEUS MEUS E TEUS E TEUS E MEUS E MEUS E TEUS E TEUS E MEUS E TEUS E MEUS E MEUS E TEUS E pratos e latas e gatos e gatas e latas e gatas e patas e facas Que são poemas e latas.

Curva rectilínea

Um cão. Um cão. Matou-se. Morrido. Estava morto. Saltou. Um cão. Saltou-se. Estava solto. Levantou. Levantou-se. Um cão. Estava em pé. Sentou. Sentou-se. Estava cão. Um gato. Um gato. Matou-se. Morrido. Estava morto. Salto. Um gato. Saltou-se. Estava solto. Levantou. Levantou-se. Um gato. Estava em pé. Sentou. Sentou-se. Estava gato. Uma gravata. Uma gravata. Matou-se. Morrido. Estava morta. Salto. Uma grava. Saltou-se. Estava solta. Levantou. Levantou-se. Uma gravata. Estava em pé. Sentou. Sentou-se. Estava gravata. Um poema. Um poema. Matou-se. Morrido. Estava morto. Salto. Um poema. Saltou-se. Estava solto. Levantou. Levantou-se. Um poema. Estava em pé. Sentou. Sentou-se. Estava poema.

Chega.

Os sentimentos são lentos. Corre na fonte uma brisa leve, de quem pensa, de quem sente e sabe alguma coisa. Levemente sussurram gritos mudos, vozes que se quebram na obliquidade do pensamento. Muitas das pessoas que falam, falam sem conhecimento de causa. O pensamento, voa leve, é simples. As pessoas vão, ficam, voltam. Vão e ficam, nunca chegam a estar. A densidade da informação faz com que seja complicado distinguir quem está e as verdadeiras intenções de quem quer estar. Filtro e espero que bem, os indícios de quem quer estar. A solidão é íngreme e apercebo-me que o cuco se deixa observar com demasiada facilidade, se encanta e ilumina por um brilho demasiado cintilante. Os erros não são erros, são ingenuidade. As pessoas não são nada.  É apenas mediocridade de quem julga e não quer ser julgado. A solidão é uma paz. A solidão nalguns dias é triste... noutros é alegre. As vozes são surreais. Não quero conhecer mais ninguém. Chega!

O meu nome é um boato.

O amor é um traço teu quando está nas minhas mãos, juntos desenhamos a eternidade, juramos mentiras para poder sorrir na rua como se nos tivéssemos acabado de conhecer. Os teus olhos desfazem-se como aguarelas na paisagem, a tua voz diz-me que me amas, os teus olhos mentem-me. Passeamos juntos e de mãos dadas, porque eu sei que tu finges não saber nada de mim, não saber quem eu sou porque queres continuar a estar lá, continuar a saber de mim, continuar comigo como se nunca tivesses sabido quem eu sou. As palavras têm o poder de nos fazer viajar sem nunca sair daquele espaço tão terreno onde estamos, são viagens que se fazem sem nunca chegar a viajar. As pessoas são letais, a dor de ter que olhar para elas é somente dor, dor que eu sinto e que finjo não sentir para poder estar ali a olhar e a falar, finjo não saber, finjo e finjo porque a ignorância é sinónimo de felicidade, mas eu não consigo ser feliz a fingir-me ignorante. Gostava de poder ser ignorante. Gostava de poder não saber na

ai

Estou tão cansado. A minha voz é infame, volátil e estática. Sou um sólido. Naquele dia não sabia mais o que dizer, a sensibilidade deixou de ser sensível. O meu âmago suportou o dever de ter que existir. Estava tão cansado e fechei os olhos por não saber berrar mais nenhum nome. Por não saber cantar mais nada. Agora as lágrimas. Agora as lágrimas. Agora as lágrimas. Há uma vasta complexidade em definir o carácter ambíguo da doença de ter que existir. Morri. Estou morto. Preciso de ti. Preciso tanto de ti.
A depressão é uma proporção da lucidez. Fechei os olhos. Abri. Fechei de novo. Começava a passar o tempo, o tempo não passava. Estava cansado. Estou cansado. Só quero o teu nome. Quero berrar em palavras mudas. O teu nome é.... é... é.... estou cansado. Esqueci-me de quem és. Esqueci-me de quem és. Esqueci-me de quem és.
As paredes são areia movediça, os meus desejos são o absurdo, as minhas barreiras são todos os medos do mundo. A segurança é para os fracos. Saltei de cabeça. Vou tomar banho. Fazes-me falta.

Sinto uma dor e choro

Rasguei o teu ventre com palavras gastas. O sono cessou a vontade de dormir, Expressão é uma indulgência Demência Dói-me a racionalidade Sinto no pré-frontal Toda a cultura pelos Erros cartesianos Arranjo estético Dois cumprimentos Pela falta de ética Estou vencido pelo cansaço Estou vencido pela falta. Estou cansado. Estou cansado. Os meus olhos morreram naquele momento As palavras foram gastas Estou cansado. Estou cansado. Pudesse eu compreender Todas as coisas do mundo Sem ter que as sentir Pudesse eu deitar-me à beira-mar E ver o vento com o tacto Expresso tudo o que está para haver Entre mim e o absurdo Para não ser nada Ninguém Nem coisa nenhuma Matar todos os chocolates Com a carência Matar todas as carências Com água e da benta Acordar dois dias depois e já não sentir nada Ter dificuldade em compreender o normal andamento das coisas Porque sinto e sentir de forma hiperbólica É uma patologia condenável e um acto insaciável Morro na

Hoje

As palavras ameaçaram. Morderam-me os lábios. Respiraram todo o meu respeito. As palavras cansaram-me o tédio. As palavras sorriram-me nos lábios. As palavras acordaram. Hoje. Lembrei-me. Amo-te.

Fecha os olhos, és linda.

Quando as palavras não me saem, fecho os olhos, respiro fundo e construo a realidade. Coloco à minha direita  todas as canetas do mundo, à minha esquerda folhas em branco e no centro flores. Quando eu pinto realidades com os olhos, quando as tuas chamadas caiem no vazio do meu telemóvel, eu lembro-me que te amo. Mensagens vagueiam e eu não as abro. Este amor impossível que nos separa, pela sede de te ver vencer. Meu amor, fecha os olhos. A melhor coisa que me pode acontecer, é receber uma mensagem tua, é saber que estás bem. Gosto de passear na baixa, gosto de saber que andas a rasgar o mundo com os teus olhos. Dá-me as mãos, vou mostrar-te o mundo: Olha para o globo! Hoje parece quadrado. Estás a ver isto aqui? Esta coisa redonda? O mundo não é nada disto! O mundo é bem mais simples que qualquer representação esférica do Planeta! Esquece isto. Não há nada de interessante que eu tenha para te dizer sobre o mundo. Descobre-o pelos teus olhos. Eu estou aqui ao teu lado, quero ver-te cres

Eu e eu e eu e eu e eu e eu e eu

Viagem imperfeita. Caminhos vagos. Vácuo do Inferno. Caderno. As tuas palavras Cegam os meus olhos Todos os meus desejos São amores sem fim De lagos de sorte Onde a morte É um início para mim Acreditei o tempo Corrompo Todos os princípios De todos os precipícios Salto à primeira chamada Porque esta é a minha chegada De mãos no ar Sem fôlego para respirar Desejo o que estou para desejar Vejo o que estou para ver Digo o que estou para dizer Lembro-me que é o dia para começar Os dias assinam o fim De páginas em branco De tanto em pouco Ventos em poupa Tanques a lavar a roupa Toda a louça a partir Como a minha mãe  a parir De hoje em diante Eu não vou avante Carrego políticas De sorte, estáticas Morra Dante A fome é um soluço E eu aumento o preço Do meu desejo ardente Que antevejo a poente Nunca acreditei em nada Nunca vesti Prada Estou assim, entre a lama e o nada O prazer é coisa nenhuma que é igual a nada Dias passam afim de mim Os dias são nada Eu sou nada A poesia é nada Nunca li