Rotina

A criação é hiperbolicamente uma doença que os meus olhos transportam. Escrever sobre o amor é uma doença congénita, escrever sobre qualquer coisa é uma tortura, uma agradável dor.
As horas passam, o relógio está do avesso, o dia anda ao contrário, a rotina desrespeita a rotina, a hora de dormir é a hora que, outrora, seria a de acordar, a hora de acordar é a hora que supostamente deveria ser a de lanchar. O relógio está do avesso, os ponteiros não andam ao contrário, simplesmente não respeitam o normal andamento das coisas. Poderia assumir, de forma incontrolada, que esta é também uma rotina e que dizer que quem o faz não segue uma rotina, é um atentado à palavra rotina, uma vez que, a pessoa apenas está a seguir uma rotina diferente e a desrespeitar a rotina comum.
A normalidade das coisas é um atentado à própria palavra. Creio não haver palavra mais ambígua que normalidade. A normalidade pode ser fazer as coisas bem feitas estando fora da regra, o que a psicologia denomina como "Conduta desviante". O sucesso não está presente na nossa capacidade de corresponder à regra, à norma ou ao comum, o sucesso assume-se pela capacidade que temos de respeitar a nossa própria identidade, fazendo essa parte ou não da "regra", estando baseada em princípios moralmente ou eticamente correctos ou não.
Seria simplista fazer a realidade girar em torno de um Eu que se divide em múltiplos Eu, sem respeitar uma norma ou estabelecer princípios comuns. Apenas creio que não há uma regra melhor que outra ou até mesmo melhor que a ausência de regra. Acho que a necessidade de regras, de corresponder ou não à normalidade, apenas diz respeito ao sujeito e aqui se põe a maior dificuldade, que é a de que o sujeito tenha a capacidade de se conhecer a si próprio ao ponto de saber se deve ou não estar dentro da regra para Ser ele mesmo, para se poder ele próprio se considerar Indivíduo, Sujeito, Pessoa ou Ser.
Viver é fácil, saber viver não é assim tão fácil. Saber viver é apenas saber viver.

Os meus olhos podem até querer fechar, mas, se eu quiser que eles se mantenham abertos, vou continuar a exigir por eles, porque em mim mando eu. Ter consciência dos riscos e arriscar não é loucura, é sabedoria.

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